quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

2 cigarros

Só tenho 2 cigarros pra escrever isso.
O primeiro cigarro é o do dia, no máximo ao finalzinho de tarde: bonito, ensolarado e calorento. Egoísmo, vaidade e vício jogados pra dentro dagente...sempre pra dentro. A fumaça que se solta pros outros é um pedaço do que veio pra dentro, um pedaço do que a gente acha do mundo, por isso já não é nosso, e não nos diz respeito. A fumaça é a penumbra sutil do caráter de cada um. O homem que trabalha solta fumaça fina, do que sobrou do dia, do que vai ser o dia; o homem de vida fácil solta fumaça frenética, charmosa, bem-humorada e que também tem um certo tipo de insegurança, e até de insensatez com ele próprio. Um até lamento. Enfim, como eu disse, fumaça não me diz respeito: é jogada pro mundo.

Esse primeiro é o cigarro da risada, do encontro, da espera do ônibus - quase sempre jogado ao chão pela metade, incompreendido, incompleto - do início de um pensamento, do devaneio rápido que dura no máximo 10 minutos: pensa-se na família, no trabalho, e até nos problemas do mundo, praqueles que ainda tem tempo, mas pensa-se principalmente do que vai ser. O que vai ser? O primeiro cigarro nunca é levado a sério... é quase desimportante. Dá a liga, o prazer, o baque com a calma que fumante só encontra no primeiro cigarro. Ele é sempre o da possibilidade, do 'vounumvou'. E depois que se fuma - que se fuma - nada importa, joga fora, como se fosse...sei lá...o primeiro cigarro.
O segundo significa lá no fundo um adeus: solene adeus pro pulmão, ou pra conversa fora jogada no bar. O último cigarro, no meu caso, o segundo, é a tentativa de tentar ficar mais um pouco, procurar nos bolsos a carteira, pra ver se sobrou o cigarro da sorte virado de cabeça pra baixo. Não. Não tem. É o último, e não vai mais ser fumado por ninguém. O último é o frio e solitário, da volta pra casa, da espera do ônibus, e esse, diferente do primeiro, pode esperar outro ônibus passar, quase nunca é jogado fora, por que o último também representa o desespero de que o tempo não volta, só corre pra frente. Tragos paranóicos pra dentro, procurando um devaneio, a esperança de que não acabe, de que seja novamente o primeiro...cigarro dos desiludidos. Acaba só no filtro. E o que se filtra desse momento? Nada. A espera pro outro dia, pro outro primeiro cigarro - que na verdade nunca mais vai ser o primeiro- mas sim o milésimo, o milionésimo: isso é vício e o meu infelizmente acabou: o meu, o nosso o de todos acabou. O último cigarro é uma saudade.

3 comentários:

Caionline disse...

hum,,,

caminhante noturno disse...

quando eu parei de fumar eu não sabia como aliviar essa vida aqui dentro que queria sair de qualquer maneira.
e então eu chorava, chorava sem parar, essa tal vida que queria sair, foi embora e não voltou.

Ícaro disse...

ai o que voce queor